quinta-feira, 25 de junho de 2009

CONTOS DE LONGA E SEMIFUSA


LANÇAMENTO DO LIVRO - MUSEU SOARES DOS REIS 18:30 10 DE JULHO

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Acerca de "Ensaio Sobre a Cegueira"

Um homem, no meio do trânsito, numa cidade atribulada, deixa de ver. Quem o ajuda, aproveita para o roubar. Qual dos dois é o cego?
A mulher do homem que cega, plena de egoísmo, vai imediatamente a uma unidade privada de saúde e passa tudo e todos para cuidar do cego. Qual dos dois será, verdadeiramente, o cego?
Rapidamente, numa sociedade ávida de crescimento, veloz, imparável, embrulhada para o seu umbigo, a cegueira instala-se como se fosse uma praga e, ao que parece, ninguém entende que essa cegueira vem, igualmente, do umbigo, e trata de excluir os cegos. Mais uma vez, quem estará cego?
Cegueira não é coisa de cego, não escolhe entre cegos e visuais. José Saramago levou isto à letra e, no seu Ensaio Sobre a Cegueira, reflecte sobre esta “cegueira branca” dos nossos dias. E que cegueira é esta? Há vários pontos de reflexão que importa frisar.

Em primeiro lugar, o porquê de ser branca. O negro é a ausência de cor, representa, o vácuo. Já o branco só se alcança através da junção de todas as ondas electromagnéticas visíveis, ou seja, de todas as cores. Assim, chegamos à conclusão de que esta cegueira não é uma cegueira de ausência, de vazio, mas antes uma cegueira provocada pelo excesso de visão. Excesso – é ou não é a palavra ideal para retratar o real quotidiano dos nossos dias?
Tantas notícias de mortes e assassinatos nem nos permitem digerir, humanizar, sentir o que isso representa. Impassibilidade não será, porventura, um novo tipo de cegueira?
Tantos são os bens materiais que nem temos tempo, ou sequer motivação, para gozar cada um deles. Não apreendemos deles o seu valor humano, o que faz deles meras drogas efémeras e, tal como o drogado se afunda cada vez mais no seu vício, a nossa sociedade afunda-se cada vez mais neste desejo de riqueza, nesta necessidade de Ter. A supremacia do Ter em relação ao Ser, que é a maior característica da sociedade ocidental, segundo Agostinho da Silva, não será, também, um novo tipo de cegueira?
Álvaro de Campos (Fernando Pessoa), já em 1917 anunciou, no seu Ultimatum, que se aplicava a Lei de Malthus à sensibilidade, ou seja, “os estímulos da sensibilidade aumentam em progressão geométrica; a própria sensibilidade apenas em progressão aritmética.” E continua: “Temos, pois, que a uma certa altura da civilização há-de haver uma desadaptação da sensibilidade ao meio, que consiste dos seus estímulos — uma falência portanto. Dá-se isso na nossa época, cuja incapacidade de criar grandes valores deriva dessa desadaptação.” É esta a cegueira retratada no filme. É esta a cegueira acerca da qual José Saramago escreveu.

Em segundo lugar, é de extrema importância dissecar o papel do egoísmo nesta história de sobrevivência, de compreensão e readaptação a um critério muito difícil de definir – a humanidade. O Ser Humano, que será o mesmo que dizer, a Pessoa, caracteriza-se pela autonomia, consciência, singularidade e responsabilidade, que, por si sós, exigem à partida um certo grau de egoísmo, isto é, uma necessidade de nos avaliarmos – “o Homem é, simultaneamente, legislador e súbdito de si mesmo” (Kant) – e de nos centrarmos minimamente em relação ao nosso ser, por forma a que exista uma independência, um “si-mesmo” que actue, não apenas em função do meio, mas relacionando-se activamente com este.
No entanto, o que se passa na nossa sociedade é que o egoísmo transbordou para o egotismo, isto é, um verdadeiro culto, endeusamento, do individualismo. Mais uma vez, há uma cegueira provocada por um excesso – o excesso de egoísmo. A partir do momento em que o “eu” se superioriza ao “nós”, todo um sistema de valores humanos desaparece, já que cada ser humano passa a ter o papel duma espécie inteira e, assim, vigora a lei do mais forte, a lei da Natureza.
Contudo, repare-se que foi essa mesma cegueira, no filme, que provocou a reunião dos indivíduos, que rapidamente compreenderam que, sós, virados para si mesmos, não conseguiriam sobreviver.
De notar, também, que, mesmo no final, quando o primeiro que cegara recuperou a vista, os seus acompanhantes ficaram radiantes, não porque ele recuperou, mas porque, em breve, seria provável que também eles recuperassem a vista. É inevitável, o egoísmo. Tem é que haver um equilíbrio entre o ser individual e o ser relacional.

Para terminar, desenganemo-nos em relação à verdadeira essência de Ensaio Sobre a Cegueira. Ao contrário do que possa parecer, esta história dramática, plena de imagens violentas, de desespero, de atrocidade, de desumanidade, não constitui uma visão negativa em relação ao estado actual da Humanidade. Pelo contrário, pretende mostrar o processo de aprendizagem pelo qual estamos a passar, neste preciso momento. A necessidade de sobrevivência e, mais do que isso, a gigantesca quantidade de Humanidade que nos resta, mais cedo ou mais tarde, despertar-nos-ão desta agnosia visual. É uma história de esperança.
Na contracapa do livro, encontramos nós a cura, segundo o autor: "Se puderes olhar, vê. Se podes ver, repara."

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

O MAIOR ARTISTA DE TODOS OS TEMPOS SERÁ AQUELE QUE TIVER A ARTE DE INVENTAR MELHOR QUE É O MAIOR ARTISTA DE TODOS OS TEMPOS!

domingo, 16 de novembro de 2008

Da Importância da Estética

Têm-me perguntado: porque dizes que a estética é tão importante quanto as outras áreas filosóficas?



Pois tentarei responder a isso.

O senhor Kierkegaard (inventor do conceito de Absurdo e do existencialismo) disse, e acho que muito bem, que há como que três níveis de valores humanos: o inferior é o estético; o seguinte é o ético e, por fim, o superior é o transcendente. Deste modo, parece que o estético será o menos importante. Não é, não senhor.

Passo a explicar. Imagine-se uma pirâmide. Não é possível construir uma boa pirâmide de cima para baixo. Uma pirâmide sem uma base sólida desmorona! O mesmo acontece com o ser humano: um ser humano que não se preocupe com o belo e, sobretudo, com o juízo do gosto, nunca conseguirá construir os seus valores éticos e, mais ainda, nunca dará o salto para a transcendência.

Antes de mais nada, é de notar que um juízo do gosto desenvolvido não é o facto de se ter um faro apurado para boas combinações de roupas e cores e organizações harmoniosas de espaços. Nada disso. O que quero dizer é que um ser humano que não desenvolva a sua capacidade de valorar as percepções dos objectos apreendidos, o mais independente e livremente possível, não desenvolverá uma base para coisa alguma - quem não distingue o que lhe agrada do que lhe não agrada, ou não pensa nisso, ou apenas pensa nisso à superfície ("agrada-me porque é giro", "porque gosto", "porque dá gozo"), nunca conseguirá definir o que é a liberdade e o que não é e, muito provavelmente, isso não lhe interessará, pois irá achar o que os outros acham, como se a cultura estivesse justificada por si própria.
Por outro lado, quem não se debruça sobre a paixão, o lado sensitivo do real, o seu lado estético, não compreenderá o que é amar (amar no seu sentido lato - sentir-se responsabilizado pela felicidade de alguém), porque não há amor sem paixão, e aqui paixão não é apenas a volúpia dum amor conjugal, é a paixão de se sentir agradado com a presença de alguém...
Sem tentar entender o que é a liberdade e o que é o amor, nunca será possível dar o salto para o derradeiro escalão de valores - o escalão da transcendência, que, independentemente dos credos, se baseia nestes dois conceitos.

Agora, também não acho que só se atinja o Belo a partir dos valores de bem, de amor e de justiça, como pretendia Platão. O Belo é um jogo de contrários, uma dialéctica, uma forte ebulição interior. "Sou uma devastação inteligente", já nos dizia (e diz) Herberto Helder.

Ora aí têm a razão pela qual a Estética é tão importante quanto qualquer outra área filosófica.

sábado, 25 de outubro de 2008

A Arte Como Ilusão Necessária

Ou O Niilismo na Arte, Ou A Estética Niilista

Aviso já que não venho aqui dizer nada de novo, mas antes, como tudo, venho arranhar umas coisas duma remistura do que já fora remisturado.

Acho que todos estão de acordo sobre uma coisa – a Arte nasce da criação da imagem, isto é, da imaginação. A necessidade cerebral duma descarga de criatividade, que destrua o carácter efémero e limitador das coisas, é o motor de ignição da Arte, já o provaram Freud e Pavlov.
Como disse, é uma necessidade cerebral, ou seja, fisiológica. Se assim o é, não será errado dizer que o artista parte dum fenómeno sensitivo e pretende retratá-lo, ganhando formas falsas, porque a fisiologia cerebral trabalha num simultâneo e a imaginação pega imediatamente nesse fenómeno sensitivo e dá-lhe uma razão de ser, que é uma razão de ser a posteriori. Esta é a primeira Ilusão – tal “Leve, Breve, Suave”, todas as sensações levam uma marretada da imaginação, e tumba, aparece a causa efeito da sensação, a primeira Ilusão.
E quando a obra destrói, precisamente, a causa efeito? Deixa de ser Ilusão? Pelo contrário, ainda o é mais – é uma dupla falsificação. Tal como dita Álvaro de Campos, no seu “Apontamentos para uma Estética Não-Aristotélica”, em Arte, há duas forças contrárias em disputa, como em tudo, aliás: “captar e subjugar”. Quem diz estas, diz muitas outras: construir e destruir; inteligência e emoção; belo agradável e belo horrível. Pois ele mostra que a captação, o agradável, a inteligência, são a falsa Arte (embora diga, depois, que “não é a teoria que faz o artista”). Eu aqui pretendo mostrar que ambas são falsas.
Porquê, então? As disposições da sensibilidade do artista são forjadas pelo intelecto, que, por sua vez, não cresceu sozinho, mas antes forjado pelas captações das disposições forjadas da sensibilidade. Ora, para dois forjadores, duas Ilusões. A primeira, a dos “fingidores”, reconstrutores gregos, é uma reconstrução forjada do real e da experiência e seja do que for (ou não for, também, que a ausência é importante, como as pausas na música, já dizia o senhor Cage) – Ilusão directa e, muitas vezes, assumida. A segunda, é uma reconstrução forjada pela imaginação de dizer à imaginação que não se está a usar a imaginação, mas antes apenas a sensibilidade – Ilusão dupla, ou indirecta.
Ainda os há que confundem imaginação com sensibilidade, ou ainda os que querem que a primeira complemente a segunda e a segunda a primeira. Mais duas mentirinhas, pois se não fossem imaginação e sensibilidade duas coisas diferentes, não sentiria o cheiro, mas a ideia dele (e o frio seria psicológico, como dizem os ilusionistas directos); não teria a ideia do cheiro, mas senti-lo-ia. Além de diferentes, também se não complementam, pois que eu posso ter uma ideia de cheiro e estar a cheirar outro, iludindo-me propositadamente, ou posso cheirar um cheiro e fingir que cheiro outro, sendo que não o complemento, de todo, mas o substituo. Mais duas Ilusões, que destroem a divisão ridícula entre a arte do real e a arte do abstracto, entre a ilusão única e a ilusão dupla, que são, sem mais tergiversações ou evasivas, Ilusão.
Então, se os aristotélicos são ilusionistas, se os não-aristotélicos são ilusionistas, se os nem carne nem peixe são ilusionistas, quem o não é? Ninguém! A Arte é esta Ilusão, entanto necessária.
Daqui, surge o problema de se decidir o que é objecto de Arte, de apreciação estética, e o que não o é, pois se todas as quatro Ilusões são arte e tudo o que se faça tem uma delas, ou várias delas, ou todas elas. Só há uma solução para estas Ilusões, que ma deu Bronowsky, muito obrigado a vossa mercê – a obra separa-se do artista, a partir do momento que sai dele; como o filho da mãe (ou do pai, que hoje em dia, isto assim como assim e diz que diz e etcetera), a partir do momento em que lá se vai o cordãozinho umbilical. Quem define o que é Arte e não-Arte é quem apreende o objecto, sendo que o conteúdo e a forma são completamente irrelevantes, até porque são o que o apreensor quiser (não tivera ele sensibilidade e imaginação, também). Ele apercebe-se das características do objecto, apercebe-se da falta de outras, cria as suas causas efeitos (entrelaçamento e disputa de características), que dependem da sua individualidade, da sua memória, da sua sensibilidade e, o que será, talvez, o ponto determinante para que se defina o que é Arte e o que não é, da sua cultura (segundo Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, “parte cultivada de um sítio, unidade produtiva, ou região”, ou seja, “conjunto de conhecimentos acumulados e socialmente valorizados, que constituem património da sociedade”, como nós somos tão parecidos com o belo do vegetal).
Deste modo, o que é arte será definido, novamente, por duas forças àlvarocampianas: pelo sujeito apreensor como ser individual, dominador; pelo sujeito apreensor como ser social, captado pelo dominante. Não há nenhum apreensor que tenha igual domínio, embora haja quem seja igualmente dominado, o que faz com que a definição da Arte seja algo de impossível, entanto, e repito até à exaustão, necessário.

Remato com o meu dogma:
Cada artista, tal como cada sujeito apreensor do objecto artístico, deve, pessoalmente, dominantemente (embora já muito dominado, como é óbvio), procurar o seu critério do que é a Arte. Cada artista deve criar a sua Ilusão do que é a Arte. Cada ser humano deve iludir-se o melhor possível de que a Arte existe mesmo, porque também é Ilusão que ela não exista.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Uma Discussão: Deus é igual a Amor ou Deus é Criador de Amor?

Eis aqui uma bela discussão sobre o meu texto "Eternidade ou Finitude".

Anónimo disse...
Com a base da ideia já começo a discordar. O homem será a coisa mais natura do mundo: a possível evolução não orientada por esse “porque sim”. Alias, como referes tu mesmo “homens, autênticos semideuses, porque criadores e portadores de vontade independente”. Então passo a dizer que a natureza só existiu direitinha e equilibrada quando apareceu o homem. Surge assim talvez um “por quê porque sim”, ou então posso mesmo chamar-lhe um “porque não”. Deste modo a natureza passa a estar influenciada por mais do que uma vontade.O que acontece e que são ambos seres. Mas são seres diferentes:O homem é um ser que existe corporal (palpável), intemporal (na medida em que o seu corpo morre para a terra e forma um ciclo no mundo), o homem incorpora o “porque sim” e o “por quê porque sim/porque não”. Ou seja, o homem tem um pouco de “deus” em si. O 2ndo ser, o tal “porque sim”, é um ser corporal (não palpável, excluindo assim o universo), intemporal (pois existe em presente, sempre).Assim, na vida, a ideia é unires a tua vontade com a do segundo ser, para viveres uma vida na paz. O que não significa que este seja o objectivo último, mas assim encontra-se o bom equilíbrio.Mas o homem não poderia existir sozinho no nada e deus sim.Assim, deus é um ser superior ao homem, na medida em que existe por ele mesmo. Deus tem muitas armas para fazer tudo o que quer, mas usa apenas uma, a mais forte: o amor.Deste modo, igualo o amor a essa força unificadora, que une todos os seres e não seres. Une tudo o que exista, pois deus ama tudo, e assim o amor está em todo o lugar.Permita-me que discorde ainda com a justificação para a pergunta que colocou: se caminhamos todos para um ser. A justificação para a parte corporal e para a espiritual foi a mesma, achando que o espiritual estivesse atado ao corporal. A comunhão não justifica o caminho para o mesmo ser, pois para eu ter a melhor vida possível, terei que viver em comunhão com os outros. Se caminharmos os dois no mesmo sentido, ate com a mesma vontade, querendo cada um a melhor vida para si, não caminhamos os dois para um mesmo ser, até vamos em direcções opostas.Assim, e para reforçar a ideia que o amor não é um ser, verifico que o amor e incorporal, e não tendo corpo, é um parasita (no bom sentido), pois precisa de outro ser, com quem partilhar a simbiose, e assim existir.No fim do corpo intacto (pois este permanecera na terra o seu ciclo), a alma, as memorias e a vontade, vão deixar de comungar com o homem e passar a comungar com deus. E nessa altura será estúpido lutar por uma mesma vontade una e eterna, pois serão todos comunhão. E aí só se conhecera o amor, pois todo o ser o terá em si de uma forma quase exagerada.bem, vou ficando a espera de uma resposta
12 de Setembro de 2008 2:11

Benjamim Natura disse...
só uma questão, antes de lhe responder? Para si, Deus=Amor?Ou Deus é um ser Criador de amor?Um ser tem, obrigatoriamente, um corpo físico, isto é, um cadáver? Outra questão? o amor que "todo o ser terá em si de uma forma exagerada" não é o atingir duma vontade una e eterna?Peço desculpa, acho que empreguei mal a palavra vontade e, por outro lado, tomei como dogma pessoal que um ser não tenha um corpo.Há algo que não consigo conceber, e daí talvez o meu erro, que é o seguinte: um Deus independente da Criação - para mim, Deus está aqui. o seu "ama tudo" é o meu "está na essência de tudo"(essência - corpo espiritual, ou o corpo não-físico de que é feito o amor, ou orientalmente falando, a energia vital do Universo [karma, se não me engano, mas acho que me enganei]). O que eu no meu "eternidade ou finitude" tentei explicar foi que o Homem, porque criador, semi-deus, tem, sem dúvida, uma vontade e um individualismo, e daí a sua contra-natureza, apenas no sentido em que uma árvore, um bicho, um etc. não é dotado dessa humanidade. usei mal a expressão, tem toda a razão.o meu objectivo era destruir essa presumível contra-natureza humana. Porque o Homem continua a ser natureza, uma vez que tudo o que faz dele Homem continua a ser fruto dum acaso, ao qual prefiro dar um sentido, chamando-lhe Amor. As ideias, a inteligência, a vontade, nós controlamo-las (numa pequena parte) - sabemos o que pensamos, sabemos por vezes porque o pensámos, mas NUNCA sabemos como construimos o que pensamos, ou, por outras palavras, porque razão as nossas reconstruções do real, que são a base do desenvolvimento do homem em relação ao animal (a seguir vem o comunicá-las, isto dito duma forma muito simplista, não estudei filosofia numa faculdade nem tenho uma cultura por aí fora), nos aparecem como e quando aparecem e não doutra forma totalmente diferente. Quanto a esta questão, só posso conceber que foi assim "porque sim", porque a minha desvontade, que será então o meu "pedacinho de Deus" que está em mim e em tudo e para onde tudo vai e que NÂO EXISTE COMO SER INDEPENDENTE DE TUDO (seria melhor esta palavra, desvontade, então) veio cá à cabeça e eu depois reconstrui-a com a minha vontade. Aí sim, posso considerar dois seres, mas o que digo é que a vontade acabará quando eu der o berro, e aí serei parte da essência de Tudo (serei apenas o 2º ser) do porque sim que mete as coisas nas cabeças e as energias vitais no real, talvez fisicamente também, se tiver em conta que toda a minha energia será reabsorvida pelo meio. e aí, o "porque não" passa a ser apenas a vontade e liberdade do Homem que questiona, ou seja, o "porquê porque sim", que cria uma espécie diferente de evolução (contra-natura, por não ser o porque sim; ou natura porque o "porque não" está dentro, também ele, do porque sim, mas a nossa cabeça não o concebe); e que cria, através desse mesmo poder criador, a maldade, ou egoísmo. com isto, quase me atrevo a dizer, como "assim falava Zaratustra", que é preciso haver maldade para haver uma evolução e que, se o Amor é a vontade essencial de Tudo, já "acaseou" tudo de forma a que houvesse o mal.Com o Homem, realmente o Mundo evoluiu, mas, ainda assim, a essência do Homem é um "porque sim", que eu, comodamente, digo que é Deus.Eu no fundo acho que tem toda a razão, meu caro senhor anónimo, mas prefiro não dividir o Amor dos seres. Ou melhor, prefiro alimentar o meu orgulho e a minha maldade - benditas sejam elas...
18 de Setembro de 2008 0:35
Benjamim Natura disse...
não quero dizer que o Amor seja o egoísmo, o orgulho e a maldade, mas criou-os porque só assim pode existir também bondade.Estou-me a explicar mal, ainda tenho muito por resolver
18 de Setembro de 2008 0:42

Anónimo disse...
Boas Sr. Natura,Desculpe-me a demora na resposta. Acaba por ir. Aqui.“Deus=Amor. Ou Deus criador de Amor?”Para mim Deus é criador de amor e criado por amor. O que não significa que sejam a mesma coisa, pois deus e um ser e amor um parasita que abunda e desbunda n’ele.”Como o amor também parasita o homem é frequente dizer-se que cada um de nos tem um bocadinho de deus em si, o que me parece de certo modo, um bom engano. “Um ser tem, obrigatoriamente, um corpo físico, isto é, um cadáver?”Um ser tem obrigatoriamente um corpo. Disto não há duvida. O que eu acho(e talvez seja este o cerne da questão) e que pode ter um corpo físico sem cadáver. Um corpo físico porque existe uno no universo( existe no universo, não e o universo). Existe. Mas pode não ser palpável as nossas mãos, nem visível aos nossos olhos. No meu entendimento , dizer corpo físico acaba por ser uma redundância. O “físico” vem dar força ao que o “corpo” tenta descrever.“o amor que "todo o ser terá em si de uma forma exagerada" não é o atingir duma vontade una e eterna?”Mas essa vontade vem de onde? No nada pode-se colocar deus e assim também o amor. Este amor vem de algum vontade? Talvez se possa dizer que vem da vontade de deus. Mas o amor não e posterior a vontade d’ele. O amor habita n’ele. O amor e essa vontade una e eterna são coisas diferentes mas julgo, e por nenhuma ser anterior a outra (deus e eterno assim cm o seu amor e a sua vontade), que ambas coexistem no tempo e no espaço.Esta parte tive dúvidas em perceber:“Um Deus independente da Criação - para mim, Deus está aqui. o seu "ama tudo" é o meu "está na essência de tudo"(essência - corpo espiritual, ou o corpo não-físico de que é feito o amor, ou orientalmente falando, a energia vital do Universo [karma, se não me engano, mas acho que me enganei]).”Duvida primeira: o amor também e feito de um corpo físico, para deste modo se poder falar do corpo não-fisico do amor?Duvida segunda: ao substituir o meu “ama” pelo seu “essência-corpor não físico de que e feito o amor” não estará a igualar tudo?Agora, permita-me que interprete a sua pergunta e a responda (perdoe-me e avise-me se o fizer erradamente):Eu não digo um deus independente da criação. Deus amou tudo antes ate do tudo existir. O tudo teve sempre amor, porque deus sempre o amou. Deus criou o tudo com o seu amor e daí que o amor seja um parasita em tudo (e sim, existe em tudo, como concluirei mais a frente). Reforço ainda que o amor não e um ser que só passou de deus para os resto e só existe em simbiose.Se “porque sim” é igual a “pedacinho de deus”, passa a haver um porquê: porque deus. Para mim faz toda a diferença ter sido deus a criar essa sua desvontade. Alias, a dependência da desvontade e deus.Desta forma a desvontade( o que não consegue explicar da construção do pensamento e outras coisas que tais) foi criada por deus, alias como você mesmo foi criado por deus, vem a cabeça e em cima pomos a nossa liberdade e a nossa vontade. Essa vontade sim acabar quando ser o berro. E aí não integrara deus, mas viverá em comunhão com ele.Fisicamente partilhara o universo. Será universo (palpável e por isso diferente de deus), com a sua matéria e energias.Agora, concordo com que o “porque não” possa ser essa vontade e liberdade do homem que questiona, criando uma espécie diferente (do resto da natureza, sim) de evolução e que cria deste modo também a maldade e o egoísmo. O que eu ainda acho e que isso e natura / tem que haver contrários, certo? Por ex.: bom/mau). Não é contra-natura por não ser o “porque sim”, pode ser natura e não estar dentro do “porque sim”. Assim é natural que haja um “porque não” e é humano (a tal humanidade que falou) que haja um “por quê porque sim”.Agora a conclusão (na qual acabo por concordar consigo):Se há amor poderá haver ausência total dele? Acho que não. Nem sequer existe uma palavra para tal. Mas o amor pode ser muito escasso e estar escondido por alguém que não o queira. Isso acontece qd se reúnem em peso o egoísmo, o orgulho, a maldade e outras q tais… assim o amor passa a ser um parasita incondicional em todos, mas numa dose mínima obrigatória da existência… a má noticia é que me quer crer que este “porque não” tem também uma dose mínima obrigatória a todo o homem.Agora depende de si, de mim, de todos. Alimentamos qual? E por esta razão que se deve acreditar em todas as pessoas (não querendo eu dizer que todas as relações humanas são boas e construtivas para os intervenientes).Agora espero ter-me explicado melhor…Que isto de percebermos esta longe de ser possível. Sabe isso não sabe?
26 de Setembro de 2008 19:26

Benjamim Natura disse...
" que eu acho(e talvez seja este o cerne da questão) e que pode ter um corpo físico sem cadáver. Um corpo físico porque existe uno no universo( existe no universo, não e o universo). Existe. Mas pode não ser palpável as nossas mãos, nem visível aos nossos olhos." - então acha que, para além do cadáver, há algo em nós constituído por matéria e energia, mas possivelmente invisível aos olhos? E será isso a alma, ou o tal corpo do ressuscitar "em corpo e alma"?Agora a resposta às dúvidas.Quando digo um Deus que não seja independente da Criação, quero dizer um Deus que só exista na e com a Criação (um bocado à panteísta, novamente, uma espécie de Deus é Tudo). Quanto ao corpo não-físico, não quis dizer que houvesse um físico, apenas quis dizer que o amor é, digamos assim, a alma das coisas. Quanto à segunda dúvida, acho que é este o ponto que separa a minha ideia de Deus da sua, e, no fundo, é disso que se tem sempre falado - para mim: Deus é Amor (é igual a)para si, pelo que percebi: Deus é o criador do Amor e de Tudo.Eu estou precisamente a tentar igualar tudo, o que me parece que, para si, é inaceitável.estamos (des)entendidos, senhor anónimo.permite-me que publique no blogue esta discussão?Se eu percebesse Deus não teria o prazer de estar aqui a escrever estas coisas, sei isso sim senhor. "Há sempre algum amor" - ainda bem."E aí não integrara deus, mas viverá em comunhão com ele.Fisicamente partilhara o universo." - ora bolas, não vou ser deus.estou a gostar muito desta sua argumentação, pôs-me a pensar. muito agradecido, é mais que provável que tenha toda a razão.(e cá para mim, imagino que o senhor deva é ter um curso de teologia, que parece que tem os termos todos correctos nem inventa termos estúpidos, como os meus)
27 de Setembro de 2008 1:30

Anónimo disse...
só nao usei a palavra alma, porque a maior parte das vezes ela é mal entendida( coitada da alma...), mas talves seja isso sim...sim, é um ponto muito particular este se deus=amor ou criador e criado por amor... um pouco ridicula ate, creio... mas é uma questao válida!todo o gosto em partilhar discussões com bloguistas e outros q tais...inté questionável natura questionário
29 de Setembro de 2008 21:32

sábado, 20 de setembro de 2008

O Porquê da Humanidade

Caros bloguistas, não faço ideia! Ando à procura de resposta, como toda a gente que pensa nisto, acho eu. Encontrei dois exemplos giros de procura, que colocarei aqui. O primeiro, de Virgílio Ferreira, do livro Pensar, encontrei-o num manual de Filosofia e adorei, porque me apareceu numa altura em que andavam a mandar-me um lixo para a cabeça chamado "O Segredo" e mais a Filosofia Fish e as baboseiras ridículas do Life Training. Aqui vai:

"Olha a vida e sorri. E não te perguntes para quê. porque o mais extraordinário dela é justamente não ter para quê. Saber para quê é dar-lhe uma finalidade conclusa, limitá-la, fechar-lhe o seu excesso. Pensa assim que o seu absurdo é a sua maior razão. Não sejas contabilista, utilitarista burguês. Não desvaries em palhaçada, que é ainda uma forma de te doeres com ela. A gratuidade de uma oferta não é a sua maior valia? A vida não se te dá como uma esmola de senhora caritativa. (...) A vida dá-se-te espontaneamente, sem razão alguma para esse dar. Não queiras inventar uma razão para a razão nenhuma disso. Haverá uma ordem no infinito, não a penses agora. Porque pensar nela é ainda achar uma razão. (...) Houve o milagre do teu encontro e é tudo."

O segundo é uma peça de teatro do grande José de Almada Negreiros Poeta d'Orpheu Futurista e Tudo, que encontrei numa edição fac-similada da revista Athena, denominada "Pierrot e Arlequim" - as duas personagens da comedia del arte, com ideias completamente contrárias. Não a posso colocar aqui, na íntegra, mas procurem-na, que vale muito a pena.

Basicamente, Pierrot não faz nada, é um triste, sabe a coisa que o fará alegre, mas não a consegue alcançar. Arlequim faz tudo quanto há, é um alegre que procura não sabe o quê, mas que procura na mesma e, como não encontra, é tão triste quanto Pierrot. Arlequim diz que alegria é andar à procura de alegria e Pierrot diz que alegria é já não ter que andar à procura dela. Pierrot é indolente, Arlequim ri e chora.
Ambos morrem, ambos não casam e, no caixão, há o diálogo final: Arlequim diz que teve a melhor ideia de sempre e que vai mudar o mundo com essa ideia; Pierrot diz que teve uma ideia ainda melhor; não conseguem valorar a ideia e Pierrot convence Arlequim a dizer a sua primeiro - "A minha ideia é que não digas a tua ideia"; Arlequim pergunta porquê e Pierrot fala-lhe da ironia de ter feito tanto e de não ter concretizado a melhor das ideias e que agora era tarde para o fazer; Arlequim diz que era mesmo uma grande ideia e Pierrot acredita e ambos acham que é tarde para fazer seja o que for.
Eu cá gosto mais da busca de Arlequim, embora saiba que vai dar ao mesmo... E vossas mercês?

domingo, 7 de setembro de 2008

Eternidade ou finitude?

Finalmente, aqui venho tratar da questão mais difícil.
Pegando nas conclusões anteriores, em relação ao Amor (ou Deus), tentarei justificar a existência duma eternidade, embora com uma finitude. Aviso desde já que isto é fruto duma reflexão pessoal e duma crença, ou seja, quem não achar que o Amor seja o porque sim significante de tudo, não vai gostar desta ideia. Prossiga a marcha.

Como já disse, todos nós temos vontade, liberdade determinada pelo acaso e/ou pelo amor e somos seres com relações de interdependência estabelecida com o meio. Agora, vendo bem, a única coisa contra-natura no Mundo é o Homem e a natureza parece que, porque sim, corre direitinha e equilibrada, não fôramos nós estar aqui. Assim, poder-se-ia pensar que talvez a natureza estivesse regida por uma só vontade, como se todos os seres vivos e o meio que os criou e que os sustenta e que os transforma, fossem vários corpos, mas apenas um Ser. E porque não? Este porque sim natural não poderá constituir um Ser, ou seja, um só Amor, um só Deus? Isto é uma visão um pouco panteísta do cristianismo, mas já vou desenvolver.
O que quero dizer é que está à vista de todos que há algo que une o Universo e o seu curso, há algo que nos mostra a nossa pequenez ao tentar perceber como é possível, com tantos acasos, estarmos aqui, Homens, autênticos semi-deuses, porque criadores e portadores de vontade independente. Há uma força unificadora, chamemos-lhe assim, do espaço, de Tudo, e para que tudo parece caminhar. Essa força unificadora, tal como a palavra indica, não poderá ser a unificação de todos os seres (corpo e alma)? Por outras palavras, não caminhamos todos para um Ser? Corporalmente - mortos, seremos parte da natureza e a matéria/energia do nosso corpo será totalmente reaproveitada por animais, fungos, bactérias, plantas,...
Espiritualmente - será que, assim tão unidos ao meio não passaremos a ser parte integrante desse porque sim a que chamo Deus? Isto é, não passaremos a fazer parte desse Ser gigante, com apenas uma vontade, sem limites espaciais ou temporais, pois está em Tudo? Pensemos bem: o que une os seres humanos em comunidade? Não pode ser apenas um acesso de líbido, pois se fosse apenas isso, não teríamos necessidade de comunicar, isto é, viver em comunhão. Assim, tem que haver algo que nos une e nos obriga a comunicar, a responsabilizar-nos por outros, a afastar o egoísmo em prole duma vontade comum. Se todos fossem dotados da mesma vontade, atingir-se-ia a total união, a verdadeira comunhão. Logo, é esse o propósito para que caminhamos - unir tudo, implicando isto avanços e recuos, vitórias de egoísmos e vitórias de amores (e sim, até homens como o Hitler tinham a necessidade de comunicar, de pôr em comum).

Assim, não pode o Amor ser um Ser sem limites físicos e que, por isso, habita em nós e, mais ainda, habita em tudo o que nos rodeia?

Chegando à eternidade, apliquemos-lhe estas ideias.
Morto eu, o meu corpo alimentará outros tantos corpos e, assim, a minha "energia vital" vai estar, SEM LIMITES CORPORAIS, distribuida por uma multiplicidade de seres e, por sua vez, já é fruto duma multiplicidade de seres anteriores. Não será essa ligação tão infinita e inacabável um ser apenas, sem qualquer limite temporal, ou, por outras palavras, uma eternidade?
Na minha cabeça faz todo o sentido que seja.
Ao mesmo tempo, morta a minha alma, as minhas memórias, a minha vontade, o que resta senão unir-me à comunhão final, à vontade una e eterna que parece ligar tudo a que chamo o porque sim? Isso não será porventura a comunhão com Deus? Com o Amor? Isso não será porventura a eternidade? O Céu, vá, dito duma forma bíblica.

Por hoje, fico-me com isto, mas ainda falta justificar, então, a razão pela qual há no Universo o Homem (e talvez outros seres dotados de vontade e ego [autonomia]), único ser contra-natura, desestabilizador desta eternidade. Porque existimos, então? Porque razão ainda não somos totalmente esse Ser, essa eternidade absoluta? Para quê a vida, então?

Fica para uma próxima, senão isto ficaria muito denso...

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Amor Vs. Hábito 2

Depois de unir o Amor ao hábito determinado, que, esqueci-me de mencionar, neste caso deve ser desinteressado, falta justificar esse mesmo hábito. Porque razão criamos uns hábitos e não outros?
Por Amor, poderia eu responder, e a resposta andava como um cão atrás da cauda. De certa forma, acredito que isto esteja certo, mas não constitui a totalidade da resposta. Quando digo por Amor, e aqui tomamos Amor no seu sentido lato, isto é, todos os laços que constituam uma relação de respeito, compromisso e afectividade (amizade faz, obviamente, parte do bolo), será o mesmo que dizer porque sim, ou por acaso, já que Amor é um absurdo para uma mente determinada por corpo, espaço, tempo, finitude e lógica e, assim, tudo o que é contrário a estas muralhas só pode ser metafísico ou, por palavras dum crente, transcendental. Assim, os únicos sentimentos válidos são o Amor e a Ausência de Amor (egoísmo ou solidão) - tudo o resto a que chamamos de sentimentos não passam de sensações disfarçadas de sentimento através duma atribuição racional, por parte da imaginação, duma causa a priori da sensação. Mas não nos dispersemos.
Voltando ao Amor, que será o mesmo que dizer Deus, para Cristãos, Judeus e Islamistas; que será o mesmo que dizer a energia vital do Universo; que será o mesmo que dizer o Nada ou o Nirvana; que será o mesmo que dizer Acaso, para quem não acredite, e com todo o direito, em transcendentalismos, haverá nessa escolha do hábito determinado desinteressado alguma razão senão o tal porque sim?
Freud, esse grande criador da Psicanálise, provou-o: muitas das nossas escolhas, preferências afectivas vêm dos primeiros anos de vida - inconsciente, ou semi-consciente. Na verdade (palavra horrível), o subconsciente do ser humano vai ser afectado, sobretudo, pela recepção sensitiva dos estímulos, sobretudo, da sua mãe, o que poderá parecer um pouco doentio, mas que está comprovadíssimo. O ser humano, já consciente, vai ter tendência para procurar os indivíduos com características semelhantes, ou que pelo menos criem as mesmas experiências sensitivas, às da sua mãe. Por exemplo, o desiquilíbrio emocional de Mário de Sá-Carneiro, que não consegue aproximar-se das mulheres senão em ilusão e sonhos deve-se ao facto da sua mãe ter morrido cedo (também pode acontecer o contrário: uma necessidade pungente e redobrada de afecto e sexualidade). Também no caso do sexo feminino é a mãe que vai influenciar o subconsciente da filha nas suas escolhas afectivas - procura raparigas com características semelhantes como amigas e rapazes como amigos ou algo mais do que isso. Daí se explica que mulheres mais facilmente são capazes de apreciar a beleza (seja lá o que isso for, ainda não chegámos à estética) noutras mulheres do que os homens entre si.
Contudo, estas influências de afectividade são meramente físicas e nós, dotados de razão lógica limitada de imaginação ilimitada, somos seres de vontade e, assim, voltamos ao cão atrás do rabo, voltamos ao porque sim a que chamo de Deus.

Eu amo porque amo! É o absurdo mais ilimitado do ser humano e, embora não o possa provar, é isto que constitui o Absoluto a que toda a Razão aspira mas não toca.

domingo, 3 de agosto de 2008

Amor Vs. Hábito

Como já vimos anteriormente, "a vida não tem nexo/dar-lhe um rumo é dar-lhe um fim" (já dizia Manuel Cruz). Compreender isto é essencial para compreender a questão que vou tratar hoje: Amor vs. Hábito.

É certo e sabido que, ao habituarmo-nos às coisas, essas ganham, para nós, um valor afectivo. Contudo, será que esse valor afectivo veio da força do hábito ou foi algo de independente? A resposta, a meu ver, pode começar por aqui: é possível que um aluno tenha aulas com um professor todos os dias e que não goste dele! Mas esta questão não é assim tão simples:

Há que separar dois tipos de hábitos: os hábitos determinantes e os hábitos determinados. Os primeiros são aqueles que, pela força do acaso, nos vimos como que obrigados a abraçar, como é o caso de um aluno que vai para as aulas e dá de caras com um professor que não escolheu e de quem não gosta, nem depois de seis meses de habituação; os hábitos determinados são aqueles que, na nossa liberdade (depois de sujeita ao acaso, também, não esqueçamos), nós criamos na nossa livre vontade, como por exemplo um indivíduo que combine todas as semanas um cafezinho com um amigo específico. Como é óbvio, no segundo caso a afectividade existe sempre! No primeiro, é uma questão de acaso, embora haja, por exemplo, o lugar-comum humano do amor à família, que não é escolhida, mas onde a força do hábito foi, sem dúvida, maior do que em qualquer dos hábitos determinantes e, como a família é determinante desde a nascença dum indivíduo, este encontrar-se-à mais determinado a abraçá-la no amor e na afectividade, embora isto não seja tão linear como estou a apresentar.

Isto remete-me para o Amor, e eis aqui a minha primeira conclusão: o Amor nasce do hábito determinado, isto é, tal como a liberdade, está sujeito ao acaso, mas dentro de um vasto campo, é fruto duma escolha do indivíduo, que, assim, passa a criar um hábito e deixa de ser exactamente como um cão, já que este tem apenas os hábitos determinantes.



Deixo-vos, para já, com estes pensamentos. Até breve

Continua...