domingo, 16 de novembro de 2008

Da Importância da Estética

Têm-me perguntado: porque dizes que a estética é tão importante quanto as outras áreas filosóficas?



Pois tentarei responder a isso.

O senhor Kierkegaard (inventor do conceito de Absurdo e do existencialismo) disse, e acho que muito bem, que há como que três níveis de valores humanos: o inferior é o estético; o seguinte é o ético e, por fim, o superior é o transcendente. Deste modo, parece que o estético será o menos importante. Não é, não senhor.

Passo a explicar. Imagine-se uma pirâmide. Não é possível construir uma boa pirâmide de cima para baixo. Uma pirâmide sem uma base sólida desmorona! O mesmo acontece com o ser humano: um ser humano que não se preocupe com o belo e, sobretudo, com o juízo do gosto, nunca conseguirá construir os seus valores éticos e, mais ainda, nunca dará o salto para a transcendência.

Antes de mais nada, é de notar que um juízo do gosto desenvolvido não é o facto de se ter um faro apurado para boas combinações de roupas e cores e organizações harmoniosas de espaços. Nada disso. O que quero dizer é que um ser humano que não desenvolva a sua capacidade de valorar as percepções dos objectos apreendidos, o mais independente e livremente possível, não desenvolverá uma base para coisa alguma - quem não distingue o que lhe agrada do que lhe não agrada, ou não pensa nisso, ou apenas pensa nisso à superfície ("agrada-me porque é giro", "porque gosto", "porque dá gozo"), nunca conseguirá definir o que é a liberdade e o que não é e, muito provavelmente, isso não lhe interessará, pois irá achar o que os outros acham, como se a cultura estivesse justificada por si própria.
Por outro lado, quem não se debruça sobre a paixão, o lado sensitivo do real, o seu lado estético, não compreenderá o que é amar (amar no seu sentido lato - sentir-se responsabilizado pela felicidade de alguém), porque não há amor sem paixão, e aqui paixão não é apenas a volúpia dum amor conjugal, é a paixão de se sentir agradado com a presença de alguém...
Sem tentar entender o que é a liberdade e o que é o amor, nunca será possível dar o salto para o derradeiro escalão de valores - o escalão da transcendência, que, independentemente dos credos, se baseia nestes dois conceitos.

Agora, também não acho que só se atinja o Belo a partir dos valores de bem, de amor e de justiça, como pretendia Platão. O Belo é um jogo de contrários, uma dialéctica, uma forte ebulição interior. "Sou uma devastação inteligente", já nos dizia (e diz) Herberto Helder.

Ora aí têm a razão pela qual a Estética é tão importante quanto qualquer outra área filosófica.

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