Como já vimos anteriormente, "a vida não tem nexo/dar-lhe um rumo é dar-lhe um fim" (já dizia Manuel Cruz). Compreender isto é essencial para compreender a questão que vou tratar hoje: Amor vs. Hábito.
É certo e sabido que, ao habituarmo-nos às coisas, essas ganham, para nós, um valor afectivo. Contudo, será que esse valor afectivo veio da força do hábito ou foi algo de independente? A resposta, a meu ver, pode começar por aqui: é possível que um aluno tenha aulas com um professor todos os dias e que não goste dele! Mas esta questão não é assim tão simples:
Há que separar dois tipos de hábitos: os hábitos determinantes e os hábitos determinados. Os primeiros são aqueles que, pela força do acaso, nos vimos como que obrigados a abraçar, como é o caso de um aluno que vai para as aulas e dá de caras com um professor que não escolheu e de quem não gosta, nem depois de seis meses de habituação; os hábitos determinados são aqueles que, na nossa liberdade (depois de sujeita ao acaso, também, não esqueçamos), nós criamos na nossa livre vontade, como por exemplo um indivíduo que combine todas as semanas um cafezinho com um amigo específico. Como é óbvio, no segundo caso a afectividade existe sempre! No primeiro, é uma questão de acaso, embora haja, por exemplo, o lugar-comum humano do amor à família, que não é escolhida, mas onde a força do hábito foi, sem dúvida, maior do que em qualquer dos hábitos determinantes e, como a família é determinante desde a nascença dum indivíduo, este encontrar-se-à mais determinado a abraçá-la no amor e na afectividade, embora isto não seja tão linear como estou a apresentar.
Isto remete-me para o Amor, e eis aqui a minha primeira conclusão: o Amor nasce do hábito determinado, isto é, tal como a liberdade, está sujeito ao acaso, mas dentro de um vasto campo, é fruto duma escolha do indivíduo, que, assim, passa a criar um hábito e deixa de ser exactamente como um cão, já que este tem apenas os hábitos determinantes.
Deixo-vos, para já, com estes pensamentos. Até breve
Continua...
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2 comentários:
Pois bem, meu caro, penso que sim, acho que não. Por outras palavras, esse raciocínio tá a modos que muito porreiraço, sendo que o Tirano exemplificou de maneira soberba ( a professora de que o aluno nunca gosta e a ida dos amigos a um coffe).
Essa vaga de familiaridade forçou-me a concordar, qual cão não pensante, com a sua teoria. Contudo, existe uma parte sobre a qual devo afirmar: embora tenha dito que não é, efectivamente linear, o amor recíproco entre vários elementos de uma família pode ser inexistente, dado que essa força do hábito normalmente confere, no mínimo dos mínimos, uma resignação à situação da pessoa (na verdade, a pessoa pode nem ter isso e explodir assim em grande agressão o pescoço dos familiares, um pouco ao estilo da minha "História do Abdullah", que virá a vislumbrar em breve).
Tendo em conta o que já mencionei, resta anunciar-lhe que vou realizar uma resposta à sua crítica ao meu movimento "Anti-Garret".
Sem mais nada a dizer, digo-lhe: Vá aliviar a pipa!!!
Fulaninho Tal
Tal como disse, é um lugar-comum, não uma regra geral. Era apenas um exemplo que poderia destruir a minha teoria e o qual desmistifiquei.
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