Leitores, como desconstrutor (ou destruidor) de estabilidades, cá estou eu, com a minha espada chamada Filosofia, para destruir o pus e a pústula, chamados Verdade e Certeza.
Não sou um grande estudioso nem um grande sabedor. A Filosofia que aqui vou apresentar não será a do filósofo (a formal, por assim dizer), mas antes a latente das letras e da teologia, que contêm os melhores trechos de Filosofia e, em simultâneo, de Arte.
Debruçar-me-ei, sobretudo, na tríade do Sentido da Existência, isto é, Metafísica, Ética e Ontologia, e na Estética, tão essencial quanto as outras e tão intrinsecamente ligada a elas.
Abomino construções de estruturas mentais e psicológicas, por constituirem um limite imposto pela nossa capacidade ilimitada de pensar (ou de sentir, que são, já nos dizia o grande destruidor de almas Fernando Pessoa, a mesma coisa [já lá vamos um dia destes]).
No fundo,
ABAIXO PLATÃO
VIVA OS SOFISTAS!
Para começarmos numa fusão nuclear, que tal um quase-niilismo camusiano?
"Não há factos eternos, como não há verdades absolutas.", esse grande desconstrutor que foi Nietzsche já no-lo dizia. Aproveito a deixa para introduzir aqui esse clássico da literatura que é "O Estrangeiro" do shor Alberto - as estrondosas frases curtas (meio neo-realistas), a compassar musicalmente o absurdo de cada instante, que não passa dum instante nunca penetrado, nunca compreendido a fundo, apenas gozado ou por gozar; o ridículo dos afazeres quotidianos; o mais assustador: a hierarquização desierarquizada desses instantes: o calor tão importante como a morte da mãe; o sentido nenhum da palavra amor. Aliás, nada mais há do que gozos, aborrecimentos, memórias que dão gozo e memórias que dão aborrecimento...
Sim, esse "inocente", esse "maluco", que o protagonista Mersault parece ser, entra em cada leitor e diz-lhe: "Tás a ver? A vida é para encher chouriços. Que tem arranjar uma gaja boa no dia seguinte ao enterro da minha mãe onde não sofri nem um pouco, tirando os «aborrecimentos» de aturar uns velhadas e um calor insuportável por mera convenção e obrigação social? Tudo é efémero, para quê o remorso se o acaso existe? Serei um criador de desumanidade por matar por acaso? Por uma morte dum parente não me induzir dor por acaso? Por ter um revólver dum amigo chamado Raimundo no bolso por acaso?"
Para a personagem de Camus, é assim, nada é bom nem mau: tudo é natural.
Para mim, o acaso significa o mesmo do que "por que sim"...
ACASO E EFEMERIDADE DESTROEM OS CONCEITOS DE BEM E DE MAL?
HÁ MORALIDADE E IMORALIDADE OU APENAS O ACASO?
FAZ SENTIDO A VIDA OU É ABSURDA?
Jean-Paul Sartre fala de "pluralismo irredutível das verdades", de "finitude"...
Deixo isto assim, no ar, a marinar nas vossas cabeças pensantes, esperando os jeitosos dos feedbacks em comentários.
Aconselho, para o tema:
Nietzsche - O Anti-Cristo (entre outros)
Poesias Completas de Álvaro de Campos (Fernando Pessoa, com Álvaro de Campos, é o verdadeiro criador da Filosofia do Absurdo, embora nunca chegasse a dar-lhe um nome)
Albert Camus - O Mito de Sísifo (teorização filosófica do seu "romance" O Estrangeiro, digamos assim)
quinta-feira, 3 de julho de 2008
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1 comentário:
Muito obrigado pelo blogue, já era necessária uma coisa destas.
Bom, tenho duas ressalvas a fazer:
Em primeiro lugar, esqueceste-te de algo essencial - o hábito. Sim, o amor não faz sentido e Mersault está com Maria pela força do acaso e do hábito, tal como o vizinho e o seu cão. Findo o hábito, vem a dor da "desabituação", ou seja, como um cão fica "triste" quando morre o seu dono, por estar habituado a ele, e não por amá-lo, o mesmo acontece quando Mersault se queixa que na prisão não há mulheres. Debruçando-nos no hábito em relação à mãe, será óbvio que o protagonista não sinta (e pensa nela, hei-de entender isso de sentir=pensar) a perda da mãe, já que não a via desde que a enviara para o asilo, que, diga-se de passagem, até era melhor para ela.
Em segundo lugar, vamos à questão do bem e do mal. Realmente, é-nos impossível declarar que Mersault é um vil desumano por viver o absurdo à flor da pele. Contudo, faltou-lhe aquilo a que eu chamo de "salto interior" para a espiritualidade: compreender que o absurdo do amor sem sentido não está contra a sua forma de ver o mundo (que é a forma, de certa forma, de toda a gente) e que, aliás, é talvez nesse absurdo superior ao nosso mesquinho entendimento que ele tira os seus "gozos", como o meu caro Benjamim Natura lhes chamou. Visto que colocou nesta espécie de prefácio ao blog a visão teológica, fico à espera da sua exploração da espiritualidade.
Cumprimentos e continue
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